quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Oscar e a Hollywood de baixo orçamento

Catalogar coisas entre melhores e piores não costuma ser uma boa ideia em nenhuma área. A trajetória do Oscar é um bom exemplo disso. É só dar uma olhada na lista de filmes que hoje são considerados clássicos obrigatórios, mas que perderam para outras produções, digamos, não tão geniais. O exemplo que logo salta aos olhos é o caso de Cidadão Kane. Hoje presente no topo de quase todas as listas de críticos e aficionados por cinema, no distante ano de 1942 perdeu a estatueta de melhor filme para Como era verde verde meu vale. E não digo que seja um filme ruim (porque realmente não é), mas o tempo se encarregou de comprovar que não era o melhor do ano de 42.


Esse, infelizmente, não é um caso isolado. Se avançarmos algumas décadas no tempo, veremos o vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1982, Gente como a gente. Um drama sombrio sobre uma família de subúrbio que desmorona após a morte de um dos filhos. Também um ótimo filme. Mas que méritos possui se o compararmos com o perdedor desse mesmo ano, o aclamado Touro Indomável? Também devemos considerar que um grande filme pode passar despercebido por muitos anos antes que todas as suas qualidades sejam apreciadas. Um caso notável é A felicidade não se compra, que só caiu nas graças do público através de reprises durante a época de Natal, tornando-se um dos grandes clássicos da história do cinema.

Qualquer tipo de categorização que envolva julgamentos pessoais sobre o que é ruim e o que é bom deve ser vista com desconfiança. No entanto, hoje em dia, o papel do Oscar é muito mais importante e vital do que pode parecer à primeira vista. Em tempos de superproduções e de uma Hollywood dominante e dominada por efeitos especiais, óculos 3-D e uma indústria de entretenimento de massa, a premiação se tornou um dos últimos estandartes de filmes de menor orçamento, com roteiros mais elaborados e menos apelação para os aspectos visuais. O Oscar é o principal incentivo para esse tipo de filme. Não é à toa que Avatar, a produção mais cara e mais rentável de todos os tempos, perdeu a estatueta para Guerra ao Terror (um filme, a meu ver, mediano, mas enfim...), um filme de baixo orçamento lançado direto para DVD no Brasil. Devo dizer que, apesar de não aprovar a escolha, entendo sua motivação.

Se não fosse por esse tipo de incentivo, não consigo imaginar a maioria das pessoas indo ao cinema ou alugando filmes que não fossem do naipe de Transformers ou Avatar. E, nesse caso, seria possível prever a morte desse tipo de produção e, com ela, do cinema como um todo. Um outro fator positivo da premiação é que ela ajudou a criar um novo tipo de filme: a superprodução de qualidade. É o caso, por exemplo, de Batman: O cavaleiro das trevas e A Origem, de Christopher Nolan, já praticamente um expert no gênero. Os filmes com histórias mais elaboradas atingiram até mesmo o terreno da ficção científica, como aconteceu em Distrito 9, de Peter Jackson.
Os Oscar, apesar de todos os seus problemas, acabam acertando na maioria das vezes. Os três filmes que costumam se revezar nos primeiros lugares de listas cinematográficas, Casablanca, O Poderoso Chefão e E o vento levou, ganharam cada um seu prêmio de melhor filme. Por isso, o jeito mesmo é cruzar os dedos e esperar que o júri cumpra seu papel e eleja, se não a melhor produção, pelo menos uma das melhores. O Oscar não pode e não vai morrer, como mais importante premiação do cinema que ele é. Nós estaremos confortavelmente sentados e atentos, com ou sem óculos 3-D. Que cada um faça sua lista de melhores do ano e critique ou elogie o prêmio. Só não se esqueça da pipoca.

Mais postagens do tipo em: http://imperiodocinema.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Bom dia Thaís,

    Recebi seu comentário no meu blog e a solicitação para que minha mãe fale sobre ser um Pereirão. Infelizmente ela faleceu no ultimo mês de junho, prematuramente. Algo que nos pegou a todos de surpresa. Não será possível cooperar com sua Revista.

    Minha mãe sempre foi o "homem" da casa em relação a manutenções. Era ela quem trocava torneiras, colocava luminárias e muitas vezes até chegou a pintar paredes. Mulheres donas de casa como minha mãe, não esperam a boa vontade de maridos que chegam cansados do trabalho e nos fins de semana querem sentar-se a frente de Tv e ver seu futebol. Muito cedo, logo após o casamento ela percebeu que não daria para contar com habilidades desse tipo vindas do meu pai. Por toda a vida, ela quem cuidou da casa, dos filhos e da manutenção. Tinha o habito de todos os natais mudar tudo dentro de casa, cor de paredes, posição de móveis e outras coisas que davam a impressão de um renascimento para o ano que se iniciava. Para nós filhos, esse natal será difícil, por que não só a falta física nos abate, mas também o espirito de solidariedade e renascimento que ela tinha.

    Lamento não poder ajuda-la.

    Rafael Leoni ( http://eleojamal.blogspot.com.br/)

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